Komitet
Правда?
HEITOR DE
PAOLA
25/05/2012
Então,
pois, aconteceu: o que Graça Salgueiro, incansável estudiosa dos lances
revolucionários do Foro de São Paulo – que obviamente, não existe, segundo a
sapiência de alguns próceres liberais ligados ao Instituto Millenium – vinha
advertindo, sem resultados, aos militares brasileiros – a destruição das Forças
Armadas nos países da Iberoamérica - aí está: criado e instalado o Komitet
Правда [1] para
investigar os “crimes da ditadura”.
Não
só Graça, mas Olavo de Carvalho, eu mesmo e Alejandro Peña Esclusa em sua última
viagem ao Brasil, quando pediu subsídios dos militares brasileiros para o livro
El plan del Foro de Sao Paulo para
destruir las Fuerzas Armadas, para o qual nada recebeu aqui, numa
atitude que foi vista como arrogante pelos colegas fardados de outros países.
O
livro foi editado com as contribuições de militares de Argentina, Bolívia,
Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela. Na Introdução diz o livro: “As Forças
Armadas da América Latina são objeto de um ataque sem precedentes. A ofensiva se
realiza em todas as nações – para lograr um único fim: a destruição definitiva
das instituições armadas”.
É
exatamente esta compreensão que me faz insistir com amigos militares da reserva
que me honram com convites, como o último, para integrar o Painel “1964 – A
Verdade” em 29 de março passado, que não se deixem iludir pela idéia de que as
investigações não terão caráter revanchista. Como já se enganaram acreditando que os
processos indenizatórios das “vítimas dos crimes da ditadura” tinham o caráter
de investimento, como se o interesse fosse apenas pecuniário. É bem verdade, que
pilantras safados como Ziraldo, Carlos Cony e outros intelectualóides estejam
vivendo à larga com as indenizações, assim como o maior beneficiário, o
causídico chapa branca Márcio Thomaz Bastos. Mas estes são side effects
de um plano maior, como o demonstra o livro de
UNOAMÉRICA.
Possivelmente
a idéia de destruir as Forças Armadas de nosso Continente começou já em 1964,
pela pronta reação contrarrevolucionária no Brasil. Khrushchev e Fidel se
deixaram levar mais uma vez pelo incompetente Prestes e pensaram que seria um
“passeio” tomar o Brasil. Não foi. Quando Brezhnev, mais agressivo, substituiu
Khrushchev em outubro de 64 nada mais restava a fazer, o movimento
contrarrevolucionário já se consolidara.
A
primeira reação partiu dois anos depois por parte de Salvador Allende, então
Presidente do Chile, fundando juntamente com Fidel Castro, a OLAS,
Organización Latino-Americana de Solidariedad, uma organização de poder
paralelo à OEA, de onde Cuba havia sido expulsa em 1962.
Em
1990 o mundo mudou. Já em 1988 tomara posse em Washington D.C. George Bush Sr
que oficializara a preparação de uma Nova Ordem Mundial. Com a farsa chamada
Perestroika a “guerra fria” acabou, o comunismo assumia o caminho gramscista
detalhadamente planejado desde a década de 80, a atração pelas esquerdas
tradicionais diminui e há uma retração do envolvimento estratégico dos EUA na
Iberoamérica.
As Forças Armadas e a Igreja Católica foram sempre vistas como os
sustentáculos das elites no nosso Continente e com o fim da necessidade de
enfrentar o poder soviético o interesse americano mudou [2].
Passou a ser necessário diminuir o poder político das FFAA e dar a elas uma nova
destinação: forças de segurança regional submetidas paulatinamente ao comando da
ONU como “forças de paz” internacional.
Finalmente a fundação por Lula e Fidel
do Foro de São Paulo, cuja história é bem conhecida. Em 1994 a esquerda retoma o
poder perdido trinta anos antes, FHC acaba com os Ministérios Militares
submetendo-os a um Ministério da Defesa desenhado para retirar-lhes o que resta
de poder de opinar sobre a política nacional e diplomática.
Não
se enganem com as pesquisas que indicam alto índice de aprovação das Forças
Armadas. A Igreja Católica também tem altos índices, num país cuja maioria segue
rituais africanos, orientais ou coisa nenhuma. Por inércia, dão nota alta à
Igreja. Mas pergunte: e quanto à pedofilia? Ah, bom aí a Igreja é culpada, os
padres deveriam casar para resolver seus problemas sexuais! Já ouvi esta
barbaridade de pessoas que se dizem católicas, até de blogueiros famosos! Ora,
os casos de pedofilia na Igreja sequer atingem 3% do total, o restante é
distribuído uniformemente pelos grupos gays – os mesmos que têm ojeriza à
Igreja, à Bíblia e aos Mandamentos. E o celibato não é causa de nada patológico,
se assumido integral e sinceramente.
O que
se vislumbra, afastada as cortinas de fumaça dos ganhos pecuniários e da
revanche, são julgamentos stalinistas ao estilo dos famosos julgamentos de
Moscou da década de 30. Não nos enganemos, pois como o demonstrou Jonah
Goldberg: quando o novo fascismo chegar não haverá botas atropelando pessoas
nem balas matando, mas belas palavras de amor e proteção contra as quais quem se
insurgir é um mal agradecido e rancoroso. Tudo será feito por e com amor ao
próximo. Pois, não estão tentando convencer os próprios milicos de que é melhor
para eles mesmos esclarecer estas coisas de forma catártica? Quanta
generosidade!
Estamos
em via de, em pleno século XXI revertermos a ciência jurídica aos primórdios
superados há 2.500 anos pela Grécia: até então as armas dos processos eram os
testemunhos e juramentos, pessoal e solidário, que possuíam valor decisório.
Mas, como o nascimento da Pólis o juiz passou a representar o corpo cívico, a
comunidade em seu conjunto, julgando baseado não mais em testemunhos, mas em
provas objetivas, não mais juramentos, mas relato de evidências. O processo
passou a empregar uma técnica de demonstração, de reconstrução do plausível e do
provável, de dedução a partir de indícios e sinais, isto é, instalava-se a noção
de verdade objetiva que o processo antigo, num quadro pré-jurídico, ignorava [3].
É a
este quadro pré-jurídico que o Komitet Правда nos conduzirá! É nisto que
dá acrescentar a palavra “Democrático” ao conceito tradicional de Estado de
Direito: a justiça deixa de se basear nas Leis e passa a ser controlada pelo
sistema “democrático” do Direito Alternativo, “subordinado servilmente a
todas as ciências sociais: à economia e, especialmente, à política, cuja prática
propicia os ‘golpes decisivos da luta de classes’ (...) típico da redução
materialista do direito a instrumento nas mãos de poucos teóricos que procuram
impor à maioria neutra uma nova atitude mental” [4].
É o
império do relativismo jurídico, que segundo Jacy de Souza Mendonça, é filho do
ceticismo, da “dúvida sobre a capacidade da inteligência humana, a partir dos
fenômenos, apreender, com objetividade, a natureza das coisas” [5].
Os
militares que tendem a testemunhar deveriam pensar muito no massacre
pré-jurídico que ocorrerá inevitavelmente no Komitet Правда: bastarão os
testemunhos das supostas vítimas, sem adução de provas objetivas para
inculpá-los e, como anuncia no Globo (24/05/12) o Beto, que de Frei não tem
nada: os resultados apurados pela Comissão servirão de base para futuros
processos legais.
Para
publicação no Jornal Inconfidência, Belo Horizonte, MG (versão
ampliada)
[1] Está
em alfabeto cirílico para os “kamaradas” (Това́рищ) que o organizaram
entenderem. Lê-se kâmitiet právda e numa tradução livre: Comissão da
Verdade.
[2] Este
assunto é bem estudado por Samuel P. Huntington no artigo As Mudanças nos
Interesses Estratégicoa Americanos, Revista Política Externa, vol. 1, 1992,
além do meu O Eixo do Mal Latino-Americano e a Nova Ordem Mundial, É
Realizações, 2008
[3] Cf.
Luis Gernet, Droit et societé dans la Grece Ancienne, Paris, 1955, citado
por Jean-Pierre Vernant, Les origines de la pensée grecque, Presses
Universitaires de France.
[4] Cf.
Gilberto Callado de Oliveira, A Veradeira Face do Direito Alternativo – A
Influência do Gramscismo, Ed. Juruá, Curitiba, 2006