Por Reinaldo Azevedo - 03/11/2012
Sempre que está acuado, não importa o
assunto – uma disputa eleitoral ou uma investigação policial –, o PT parte para
o ataque. Infelizmente – para o país e para a ordem dos fatos –, costuma ser
bem-sucedido.
Vimos isso recentemente, na disputa eleitoral em São Paulo. Desde
que Lula decidiu que o candidato seria mesmo Fernando Haddad, o partido iniciou
uma intensa campanha acusando forças supostamente obscurantistas e a oposição de
explorar a questão do kit gay. Quem quer que faça uma pesquisa vai constatar que
os adversários do partido mal tocavam no assunto. Era só uma reação preventiva
para conquistar, como conquistou, a imprensa. Tocar no tema passou a ser visto
como coisa reacionária, conservadora, religiosa. Mais ainda: inverteu-se o ônus
do tema. O tucano José Serra é que passou a ser literalmente perseguido por
jornalistas para se posicionar a respeito, sendo acusado de explorar um tema que
não diria respeito à cidade – o que, de resto, é falso porque há milhares de
alunos da rede municipal de ensino.
Muito bem! Qual foi a consequência? O kit
gay ficou longe da campanha. O tema não foi levado ao horário eleitoral gratuito
ou aos debates na TV.. O PT conseguiu, assim, ”, blindar Fernando Haddad,
preservando-o de sua própria obra. O ministro que autorizou a produção de um
material – destinado a alunos a partir de 11 anos – que sustentava a
superioridade da bissexualidade no cotejo com a heterossexualidade. O mais
impressionante: Serra, que não tocou no assunto, foi acusado de estimular o
preconceito. Um sedizente “cientista social” afirmou que sua campanha estaria
contaminada pelo “ódio”. O PT, em suma, fez um movimento preventivo e se deu
bem.
O caso da CPI do
Cachoeira
No dizer de Rui Falcão, presidente do PT e pensador
refinado, a bancada do PT na Câmara e no Senado defendia uma CPI “para apurar
esse escândalo dos autores da farsa do mensalão”. Tudo parecia caminhar bem até
que surgiram na mesa os nomes de Fernando Cavendish e Sérgio Cabral. Aí os
petistas precisaram correr com o rabo enfiado entre as pernas. Afinal, ficou
claro, Carlinhos Cachoeira era só um peixe pequeno de um escândalo gigantesco,
que iria estourar no Palácio do Planalto. Mas, como resta evidente, houve, sim,
a tentativa de usar a CPI para melar o julgamento no STF.
Depois da
condenação…
Condenado Marcos Valério, o PT passou a viver o pânico
da concessão do benefício da delação premiada ao empresário. Sabe que os 40 anos
de cadeia não são coisa trivial e que seu antigo aliado está injuriado. Alguém
na sua situação pode, sim, decidir se safar contando o que sabe. O partido
havia prometido um manifesto para quinta-feira, mas parece ter adiado em face
das notícias que começaram a circular sobre o depoimento de Valério.
Agora ao
ponto
Recuperem o noticiário de janeiro de 2002, por ocasião do
assassinato do prefeito Celso Daniel. Antes que qualquer pessoa aventasse
publicamente a possibilidade de que o PT pudesse ter algum envolvimento com a
morte, os petistas botaram a boca no trombone e saíram acusando a suposta
tentativa de incriminar o partido, exigindo, em tom enérgico, que a polícia
fizesse alguma coisa. Montou-se uma verdadeira operação de guerra para controlar
o noticiário. No arquivo do blog, vocês encontram alguns textos a respeito.
Celso foi o primeiro de uma impressionante fila de oito cadáveres
relacionados ao caso.
O prefeito morto era já o
coordenador do programa de governo do então pré-candidato do PT à Presidência,
Luiz Inácio Lula da Silva. O partido seria o primeiro a ter motivos para
desconfiar de alguma motivação política para o sequestro e imediato assassinato.
Deu-se, no entanto, o contrário: o partido praticamente exigia que a polícia
declarasse que tudo não havia passado de crime comum.
O último morto, por causa desconhecida (!),
foi o legista Carlos Delmonte Printes, que assegurou que Celso fora barbaramente
torturado antes de ser assassinado. Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado do PT que
acompanhou o caso em nome do partido e teve acesso ao cadáver, assegurou à
família de Celso, no entanto, que não havia sinais de tortura. O fato é
conhecido porque foi denunciado pela família do prefeito.
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GILBERTO CARVALHO É O DO CENTRO |
Gilberto Carvalho, braço direito de Celso
na Prefeitura, movimentou-se freneticamente logo após a morte do “amigo” para
que prevalecesse a versão do partido: crime comum. O esforço deixou um rastro de
conversas gravadas que vieram a público. Tudo muito impressionante. Leiam, por
exemplo, este diálogo em que Sérgio Sombra, acusado de ser ao assassino de
Celso, entra em pânico e pede para falar com Carvalho. Alguém garante que está
sendo montado “um esquema”.
(Sombra) – Ô
Dias!
(Dias) – Oi chefe!
(Sombra) – Onde é que você está cara?
(Dias) – Tô na avenida (…). Eu tô saindo, to indo
praí.
(Sombra) – (…) Fala prá ligá nesse
instante (…) Pará de fazer o que está fazendo.
(Dias) – Peraí, Peraí, Perai. Ei! Oi! Escuta o (…) Já
está aí onde está todo mundo (…) Alô!
(Sombra) – Ô meu irmão!
(Dias) – Cara cê está no sétimo?
(Sombra) – Ô meu! O cara da Rede TV está me escrachando,
meu chapa! Tá falando que… Tá falando que é tudo mentira, que o carro tá
pegando, que não destrava a porta, que sou o principal suspeito.
(Dias) – Ô cara! Deixa eu te falar. O que hoje tá pegando
contra você é esse negócio do carro. Nós temos que fazer é armar um esquema aí:
“porque as empresas de (…) junto com a Mitsubishi, por razões óbvias de mercado,
se juntaram para dizer que você está mentindo, que o câmbio está
funcionando”…Entendeu? Então é o seguinte…
(Sombra) – Peraí. Perai, péra um pouquinho.
(Dias) – (…) Pô! Pegá o que Porra?
(Sombra) – Chama o Gilberto aí! Chama o Gilberto! Tem que
armar alguma coisa!
(Dias) –
Calma!
(Sombra) – Eu tô calmo. Quero é que
as coisas sejam resolvidas.
Outro diálogo: “Puta! Tá
dez!”
Há outro diálogo bastante interessante. Alguém liga para
Ivone, tornada pelo partido a “viúva oficial” de Celso — consta que era sua
“namorada” à época… E lhe dá nota dez por sua performance como “viúva” numa
entrevista. Vocês entenderam direito. Leiam. Ivone é a personagem B.
(...)
(Xande)
– Como vai minha querida?
(Ivone) – Vou assim. Arrastando.
(Xande) – Ótima a sua entrevista! Viu?
(Ivone) – Você gostou Xande?
(Xande) – Eu gostei muito mesmo.
(Ivone) – É importante a sua opinião pra mim porque estou
totalmente sem referência. Né?
(Xande) – Eu achei muita boa. Entendeu. Tá super. Tem coisas… tá perfeito!
(…)
(Ivone) – Hoje tem uma coisa. Programa pra ir na Hebe.
(Xande) – É. Porque vai a mulher… a viúva do
Toninho.
(Ivone) – Sabe que o Genoino
quer. E é uma merda né. Uma merda.
(Xande) – Olha. Se você falar o que falou ai está 10. Puta! Tá 10, não parece estrela, a
dor de uma viúva. Tá dez!
Como se nota, a morte do “companheiro”
havia se transformado apenas numa questão de marketing e de guerra para ganhar a
“mídia”. Com direito a nota pela performance da, sei lá como chamar, “atriz”
talvez.
Retomo
Já lhes contei
aqui. Mesmo a ala petista da família Daniel rompeu com o PT. Um dos irmãos,
Bruno, teve de se exilar na França com mulher e filhos. Estavam sendo ameaçados
de morte no Brasil. Outro irmão relatou que Celso havia lhe contando que
Carvalho era o portador de malas de dinheiro de um propinoduto de Santo André
para o então presidente do PT, José Dirceu. Os dois negam.
Vale a pena, reitero, por curiosidade quase
científica, voltar ao noticiário daqueles dias para constatar a frenética
movimentação preventiva do partido, certo de que poderia conduzir para onde
quisesse a opinião pública. Passada uma semana, quem estava na defensiva era a
polícia paulista… Agora, Marcos Valério denuncia ao Ministério Público que o PT
tentou fazê-lo participar de uma esquema para silenciar. com dinheiro, pessoas
que estariam chantageando Lula e Carvalho, podendo implicá-los no assassinato de
Celso. Valério diz que não participou, mas dá a entender que tem mais detalhes
da operação, que teria sido realizada. Diz que sabe até que banco foi usado na
operação.
Vamos ver. Uma coisa é certa: o cadáver de
Celso Daniel volta a se agitar no armário. E o PT decidiu adiar o seu manifesto
contra o STF e a “mídia golpista”.
*
PS – Reitero: a vida de
Marcos Valério vale mais a cada dia. E, por isso mesmo, também vale menos… Se o
STF não tomar as devidas precauções, o óbvio acontece. Porque o óbvio sempre
acontece.
Imagens inseridas pelo Blog.