Lula deixa para Dilma R$ 57,1 bilhões de restos a pagar
Com o acréscimo dos gastos de custeio, as contas pendentes somam R$ 137 bilhões
04 de janeiro de 2011 | 8h 12
Marta Salomon, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff herdou um volume recorde de  contas a pagar do antecessor, que até aqui só recebeu elogios. As contas  pendentes de pagamento só em investimentos somam R$ 57,1 bilhões, de  acordo com um primeiro retrato do saldo das contas públicas deixado no  último dia de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O saldo dos chamados "restos a pagar" representa um constrangimento  para os gastos do primeiro ano de mandato de Dilma e deverá obrigar a  equipe econômica a aumentar o tamanho dos cortes. O governo terá de  optar entre quitar contas antigas ou pagar novas despesas autorizadas  pelo Orçamento de 2011. 
A alternativa será cancelar gastos contratados por Lula, mas isso não  correrá por ora, apurou o Estado. O maior volume de contas pendentes de  pagamentos está concentrado nos ministérios dos Transportes e das  Cidades, tradicionalmente os que mais investem, seguidos pelos  ministérios da Saúde, da Integração Nacional e da Educação.
Isoladamente, o programa de governo com mais contas pendentes é o de  serviços urbanos de água e esgoto. Só as contas a pagar em investimentos  representam mais de uma vez e meia o custo estimado do trem-bala entre  Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro e supera quatro vezes a previsão de  gastos do programa Bolsa Família em 2011. 
Outro recorde 
Em outra medida de comparação do recorde herdado por  Dilma, os R$ 57,1 bilhões de contas pendentes em investimentos superam  os R$ 44,6 bilhões de investimentos pagos em 2010, um outro recorde  histórico registrado no último ano de governo Lula. A quantia também  está próxima da previsão de gastos de investimentos em 2011 aprovada  pelo Congresso, inflada por emendas de deputados e senadores, de R$ 63,5  bilhões. 
Consideradas as contas pendentes de pagamento deixadas no último dia  de governo Lula não apenas de investimentos, mas também em gastos de  custeio não pagos, a soma chega a R$ 137 bilhões, ainda de acordo com  números registrados no Sistema Integrado de Administração Financeira do  governo federal (Siafi) e pesquisados ontem pela ONG Contas Abertas. 
Os números serão levados em consideração pelo governo Dilma quando  estabelecer os limites de gastos para 2011. Ontem, a ministra Miriam  Belchior (Planejamento) não quis comentar os dados. O ministro Guido  Mantega (Fazenda) também não se manifestou. 
O volume de contas pendentes cresceu no governo Lula e é objeto de  alerta reiterado do Tribunal de Contas da União. Nos últimos anos, a  parcela de contas pendentes já consome uma parte dos tributos maior que  os investimentos autorizados no ano. Em 2010, as contas pendentes  aumentaram após as eleições, por causa de gastos feitos em novembro e  dezembro.
Investimentos
O retrato do último dia de governo Lula lançado no  sistema de acompanhamento de gastos do governo revela um recorde em  investimentos pagos com dinheiro dos impostos. Em 2010, a União investiu  R$ 44,6 bilhões. O valor é 38% maior do que o registrado em 2009 - R$  32,1 bilhões -, o recorde anterior na série histórica que começa em  1995. Com as estatais, o valor de investimentos deverá superar a marca  de R$ 103 bilhões, registrada em 2009. 
Para entender
O volume crescente de contas pendentes de pagamentos na União bagunça  a administração dos gastos públicos. A cada ano, o governo tem gasto  uma parcela maior da arrecadação com despesas de anos anteriores.  Resultado: nos últimos anos, a lei orçamentária aprovada pelo Congresso  ficou mais distante da realidade. Os "restos a pagar" constituem uma  espécie de orçamento paralelo. O ano de 2010, por exemplo, começou com  contas pendentes em investimentos de R$ 50,8 bilhões. Dos R$ 69 bilhões  de novos investimentos autorizados por lei, o governo se comprometeu a  tirar do papel R$ 53 bilhões, dos quais R$ 21,5 bilhões foram pagos. A  diferença ficou para Dilma Rousseff pagar.
 
 
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