NUANÇAS DO SOCIALISMO
Maynard Marques de Santa Rosa
A  ideologia socialista contém duas inconsistências que maculam a sua concepção  metafísica: uma é a premissa da igualdade social; a outra, sua ambiguidade  ética.  
A  igualdade social mostrou-se impraticável, por implicar o nivelamento do mérito.  As pessoas são socialmente desiguais, porque nascem com potencialidades  diferentes e são soberanas no uso do próprio livre-arbítrio. É o esforço pessoal  que baliza o mérito.
Algumas são mais inteligentes, trabalham e produzem  mais, economizam e poupam para o futuro. Outras são menos dotadas ou produzem  menos, e muitas desperdiçam o que ganham. O direito à propriedade é o  ressarcimento natural do trabalho e a remuneração do mérito. A intenção de  padronizar as condições sociais contradita o conceito de justiça. 
A  igualdade de direitos e deveres perante a lei, consagrada por quase todos os  povos, é uma vitória da humanidade, que honra a memória e o talento de Rousseau.  O nivelamento do mérito, no entanto, é injustiça. Ao impô-lo, anula-se a força  da motivação, estimulando a ociosidade e a preguiça. Com isso, desperdiça-se o  potencial criativo das pessoas, restringindo-se o progresso da sociedade. Foi  justamente essa mazela que minou as bases da economia planificada, levando ao  colapso a União Soviética.
A  bandeira da igualdade social está superada, pois as conquistas alcançadas pela  civilização em mais de um século de evolução contínua conseguiram eliminar as  principais raízes de injustiça que nutriam o sentimento revolucionário dos  trabalhadores na era da Revolução Industrial.
A  ambiguidade ética do socialismo decorre da sua estratégia de implantação.  Durante a crise de 1848, Karl Marx e F. Engels firmaram o “Manifesto do Partido  Comunista”, patenteando uma ameaça permanente e implacável: “Os comunistas  pouco se importam em esconder seus pontos de vista e objetivos. Declaram  abertamente que seus fins podem ser obtidos somente pela destruição pela  força de todas as condições existentes. (...) Trabalhadores de todos os  países, uni-vos!” 
Assim, incapaz de convencer pela razão, apela-se à  violência, para forçar a transformação da sociedade. E não se estabelecem  limites. Lenin costumava afirmar que “os fins justificam os meios”. 
A  brutalidade que a doutrina socialista tenta legitimar por meio de um solidarismo  forçado teve como modelo a fase jacobina da Revolução Francesa, quando foram  guilhotinadas mais de 45 mil pessoas. Contudo, a sua índole autoritária remonta  às origens do pensamento socialista. O “Code de la Nature”, de Morely,  publicado em 1755, já estabelecia: “Art 1º - Nada na sociedade  pertencerá singularmente nem como propriedade a ninguém. (...) Aos cinco  anos, todas as crianças serão retiradas da família e educadas em conjunto, às  custas do Estado, de um modo uniforme (...) As cidades serão construídas  seguindo a mesma planta; todos os edifícios para uso dos particulares serão  iguais”. 
A  profecia de Marx, de que o capitalismo se extinguiria por força das contradições  imanentes, não se consumou. Ao contrário, foi justamente o “socialismo real” que  desmoronou, ao final da década de 1980, carcomido pelas suas incoerências  intrínsecas.  
O  fundamentalismo socialista, no entanto, teima em persistir nas mentes  inconformadas, que acalentam uma realidade preconcebida, abstraindo a realidade  dos fatos. Assim é que foi ressuscitado, na década de 1990, o modelo da  Revolução Passiva, de Antonio Gramsci, invertendo as fases revolucionárias. A  violência, agora, reveste-se de uma letalidade subjacente, a da arma  psicológica, que não fere o corpo, mas neutraliza a alma. Primeiro, há que  destruir a cultura “burguesa”, para só depois implantar a “ditadura do  proletariado”.
No  Brasil, o estigma ideológico representa uma barreira de difícil superação, que  divide a sociedade e desafia os governos, gerando desconfiança entre irmãos e  retardando o progresso. 
O  colapso do materialismo histórico e dialético no Leste europeu mostrou que esse  regime só poderia sobreviver sob condições de pressão contínua e tirania  totalitária; logo, na contra-mão da natureza humana. Felizmente, a profecia que  se confirma é a de Mateus, 7, 17-23: “Toda planta que meu pai não plantou será  cortada e lançada ao fogo”.
 
 
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