A primariedade demagógica do discurso de Obama
Paulo Chagas
     Não é possível ouvir o discurso do populista  “desengravatado” Barack Obama, sem identificar nele o atávico desprezo dos yankes por nossa inteligência e seu perfeito conhecimento sobre a nossa falta de  memória e endêmica vulnerabilidade à ovação demagógica. Afinal, ele, como  político profissional, não poderia se desvincular nem abrir mão dos  “maneirismos” que caracterizam a classe em todos os cantos do mundo. Há que se  entender, portanto, o oportunismo que não poderia faltar em sua primeira visita  ao gigante de chuteiras que, ainda amargando a ressaca do último carnaval,  permanece alheio à verdade de seu passado recente e que, iludido com as mentiras  do presente, não consegue enxergar a realidade do seu futuro!
     Não deixou de citar a letra de um samba que,  mesmo consagrando a imagem do Brasil no exterior, ensejou o fim da carreira de  seu interprete, vítima do patrulhamento ideológico em vigor no Brasil desde  antes da abertura democrática dos governos militares e que deu origem ao  processo de controle de mentes e consciências, retratado nas contradições do  discurso do ilustre visitante.
     Ao referir-se ao tempo da “ditadura”, finge  esquecer que o contragolpe de 1964 e os Governos que o consolidaram foram ao  encontro dos mais fortes e legítimos interesses do seu país. Despreza a  iniciativa dos brasileiros que, em plena vigência da Guerra Fria, defendendo a  democracia e a sua própria liberdade, impediram a criação de uma ameaça  inadmissível à segurança das Américas e à paz mundial e que, de outra forma,  ensejaria, com muito mais razões do que hoje ocorre no oriente e no norte da  África, a intervenção armada no Brasil.
     Simula não saber que o “garoto pobre de  Pernambuco” que chegou à Presidência da República iniciou sua carreira política  e consagrou-se como líder sindical ainda sob o regime militar. Oportunidade que  hoje é negada à grande massa de nordestinos desempregados e encurralados pela  “bolsa esmola”, criada pelo tal pernambucano para permitir a eternização do seu  partido no poder.
     Tanta hipocrisia leva-me a crer que, quando se  refere a um “compromisso com a inovação e com a tecnologia”, esteja de olho na  sacrificada e solitária evolução conquistada pelos centros de pesquisa  militares, particularmente da Marinha do Brasil, que nos permite hoje projetar  não apenas o domínio, mas a completa independência em todas as áreas do emprego  da energia do átomo.
     Refere-se ao poder da democracia como o maior  parceiro da esperança e do progresso humano e enaltece as efêmeras e falsas  conquistas sociais dos miseráveis do Brasil, ao mesmo tempo em que falseia não  saber da dificuldade que têm os atuais detentores do poder para definir o que  seja a democracia, haja vista o “excesso” dela que, segundo eles, é  proporcionada à Venezuela pelo “democrata” Hugo Chavez e à ilha de Cuba pelos  irmãos Castro, aliados e mentores ideológicos de ontem e de hoje!
     Menciona direitos universais que devem ser  apoiados e garantidos em todas as partes do mundo e se esquece, ou finge que não  se lembra, das manifestações de amizade e da admiração do governo brasileiro  pelas ditaduras que hoje se constituem em ameaça aos interesses “libertadores”  dos Estados Unidos da América e seus aliados preferenciais. 
     Elogiar para o mundo uma personagem como Dilma  Rousseff, que pegou em armas para implantar no Brasil a Ditadura do Proletariado  e que, declaradamente, não se arrepende de seu passado ou de seus ideais;  enaltecer alguém que lutou pelo fim dos direitos mais básicos, apresentando seu  sucesso como exemplo de perseverança, é negar aos brasileiros os ideais do  “sonho americano”, é zombar da sua inteligência e desfazer da sua importância  como seres humanos merecedores de respeito e de dignidade, é tratar-nos como  gente de segunda classe, cuja cultura e evolução não permite enxergar além da  retórica, povo destinado a ocupar lugar secundário na nova ordem globalizada da  evolução mundial.
     Que me perdoe o Sr Obama, líder de um povo  admirável, mas senti-me ofendido com seu descaso pela verdade e com seu desprezo  para com o futuro da liberdade e da democracia no Brasil. Senti-me ofendido pela  primariedade demagógica do seu discurso!
     Sua passagem por aqui, embora curta, prestou  grande desserviço a tudo que diz que defende e que é apanágio e exemplo do povo  que representa.

 
 
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