Carta do General Heleno ao jornalista Jânio de Freitas
Transcreve-se a seguir a carta enviada pelo General Heleno ao jornalista Jânio de Freitas, rebatendo as leviandades publicadas em artigo do mesmo.
Extrato do Artigo
Dia de Silêncios
Jânio de Freitas
A ausência do 47º ano sucessivo de manifestações mutuamente agressivas, no 31 de março, de representantes militares da ditadura e de parte dos seus opositores, tem significações maiores do que deu a perceber de imediato.
[...]
No lado dos militares, os três comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica reproduziram para os subordinados a instrução do ministro Nelson Jobim contra ordens do dia e outras manifestações sectárias. Mas o primeiro daqueles comandantes, general Enzo Peri, tem no caso um destaque particular. O general Augusto Heleno Pereira, com a ira que o acometeu desde que voltou da missão no Haiti, estava prestes a transgredir a instrução do ministro. O general Peri calou-o, e aos componentes do ato planejado, com uma intervenção firme. Como não houvera ainda em relação ao assunto.
O general Augusto Heleno tornou-se conhecido quando a Procuradoria da República constatou ser destinada a ele, servindo no Palácio do Planalto durante o governo Fernando Henrique, a quantidade injustificável de telefonemas do então juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau, que à época fazia fortuna com o dinheiro da construção do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo.
A manifestação no dia 31 seria a última participação do general antes de oficializada, com a passagem para a reserva por prazo no posto, sua troca das fardas por uma roupinha paisana e doméstica. Mas sem motivo para frustração pelo silêncio como encerramento. Na reserva, terá mais oportunidade de se manifestar. Espera-se que até para explicar, de maneira mais convincente do que já fez, também os telefonemas do Lalau, mas sobretudo suas relações com a ONU no Haiti e sua volta imprevista e sem a extensão possível. Este último tema é de interesse amplo.
[...]
A carta enviada ao jornalista pelo General Heleno
Jamais fui interpelado pela Procuradoria da República sobre “quantidade injustificável de telefonemas do então juiz Nicolau dos Santos Neto”.
Jamais servi no Palácio do Planalto durante o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Durante o governo do Presidente Collor, tinha contatos frequentes com os Presidentes de Tribunais Regionais do Trabalho, por motivo exclusivamente funcional. Os processos de nomeações do Poder Judiciário, de Ministro do STF a juiz classista, passavam por mim, no Gabinete Militar, e eu, pessoalmente, os preparava para despacho do Min da Justiça com o Presidente da República.
Nada mais razoável que me ligasse com o presidente do TRT/SP, o mais importante do País. Jamais tratei de obras, verbas ou coisa parecida. O Gabinete Militar não possuía qualquer ingerência com o assunto.
Sua ilação é infundada, leviana e inexplicável. Da primeira vez que você tratou do assunto, já se vão alguns anos, coloquei à sua disposição minhas declarações de Imposto de Renda e extratos bancários. Você preferiu seguir a linha das acusações irresponsáveis e mentirosas.
Quanto à volta do Haiti, não entendi suas conclusões.
Ultrapassei em três meses o prazo previsto para a missão. Depois de 15 meses fora do País, retornei para assumir o cargo de Chefe do Gabinete do Comandante.
Fui convidado, insistentemente, pelo Chefe do Departamento de Operações de Paz da ONU e pelo próprio Secretário Geral da ONU, que me ligou pessoalmente, para permanecer no cargo.
Recusei porque considerava minha tarefa cumprida e porque sempre achei saudável a renovação de comandantes, sobretudo em uma missão altamente desgastante. Gostaria que outros generais vivessem a experiência fascinante de comandar a Força Militar da MINUSTAH. Esse rodízio acontece até hoje.
Finalmente, quanto à palestra sobre 31 de março de 1964, não iria ferir os princípios da hierarquia e da disciplina, após 45 anos de serviço e no mais alto posto da carreira. Minhas palavras não iriam modificar os fatos, apenas contar a verdade aos mais jovens.
Gen Augusto Heleno Pereira
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