General da Força Aérea arrasa Ministro da
Defesa
Ex..º Sr. General Chefe do Gabinete de S. Ex.ª o Ministro da Defesa
Nacional, Caro camarada:
Apresento a V. Ex.ª os meus
cumprimentos.
Tomo a liberdade de me dirigir a V. Ex.ª para lhe solicitar que
transmita a S. Ex.ª o Sr. Ministro a minha indignação relativamente à forma
pouco respeitosa e mesmo insultuosa como se referiu às Forças Armadas, aos
militares e às suas Associações representativas, no passado dia 1 de Fevereiro.
De todos os governantes, o Ministro da tutela era o último que deveria proferir
palavras dessa estirpe.
Sou Tenente-General Piloto-Aviador na situação de Reforma, cumpri 41
anos de serviço efectivo e possuo três medalhas de Serviços Distintos (uma delas
com palma), duas medalhas de Mérito Militar (1.ª e 2.ª classe) e a medalha de
ouro de Comportamento Exemplar. Servi o meu País o melhor que pude e soube, com
lealdade e com vocação, sentimentos que S. Ex.ª não hesita em por levianamente
em causa. Presentemente, faço parte com muito orgulho, do Conselho Deontológico
da Associação de Oficiais das Forças Armadas.
Diz o Sr. Ministro que “a solução está em todos nós. Em cada um de
nós”. Não é verdade! A solução está única e exclusivamente na substituição
da classe política incompetente que nos tem governado (?) nos últimos 25 anos, e
que nos tem levado, de vitória em vitória, até à derrota final! Os comuns
cidadãos deste País, nomeadamente os militares, não têm qualquer
responsabilidade neste descalabro. Como disse o Sr. Coronel Vasco Lourenço no
seu livro, “os militares de Abril fizeram uma coisa muito bonita, mas os
políticos encarregaram-se de a estragar…”
Diz também S. Ex.ª que as Forças Armadas estão a ser repensadas e
reorganizadas. Ora, se existe algo que num País não pode ser repensado nem
modificado quando dá jeito ou à mercê de conjunturas desfavoráveis, são as
Forças Armadas, porque serão elas, as mesmas que a classe política vem
sistematicamente vilipendiando e ultrajando, a única e última Instituição que
defenderá o Estado da desintegração.
Fala o Sr. Ministro de algum descontentamento protagonizado por parte
de alguns movimentos associativos. Se S. Ex.ª está convencido que o
descontentamento de que fala se limita a “alguns movimentos associativos”, está
a cometer um erro de análise muito sério e perigoso, e demonstra o
desconhecimento completo do sentir dos homens e mulheres de que é o responsável
político. Este descontentamento, que é geral, não tenha dúvida, tem vindo a ser
gerado pela incompetência, sobranceria, despudor e, até, ilegalidade com que
sucessivos governos têm vindo a tratar as Forças Armadas. É a reacção mais que
natural de décadas de desconsiderações e de desprezo por quem (é importante
relembrar isto) vos deu de mão beijada a possibilidade de governar este País
democraticamente!
As Forças Armadas não querem fazer política! Não queiram os
políticos, principalmente os mais responsáveis, “ensinar” aos militares o que é
vocação, lealdade, verticalidade e sentido do dever. Mesmo que queiram, não
podem fazê-lo, porque não possuem, nem a estatura nem o exemplo necessários para
tal.
Quem tem vindo a tentar sistematicamente destruir a vocação e os
pilares das Forças Armadas, como o Regulamento de Disciplina Militar, destroçado
e adulterado pelo governo anterior? Quem elaborou as leis do Associativismo
Militar, para depois não hesitar em ir contra o que lá se estabelece? Quem tem
vindo a fazer o “impossível” para transformar os militares em meros funcionários
do Estado? Apesar disso, tem alguma missão, qualquer que ela seja, ficado por
cumprir? Fala S. Ex.ª de falta de vocação baseado em que factos? Não aceita S.
Ex.ª o “delito de opinião”?
Não são seguramente os militares que estão no sítio
errado!
Por tudo o que atrás deixei escrito, sinto-me profundamente ofendido
pelas palavras do Sr. Ministro.
Com respeitosos cumprimentos de
camaradagem
EDUARDO EUGÉNIO SILVESTRE DOS
SANTOS
Tenente-General Piloto-Aviador
(Ref.) 000229-B
P.S. – Informo V. Ex.ª que tenho a
intenção de tornar público este texto.
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