Marco Antonio Felicio da Silva
“A Instituição será maculada,
violentada e conspurcada diante da leniência de todos aqueles que não pensam,
não questionam, não se importam, não se manifestam”.
Algum tempo
anterior à morte do General Sergio Augusto de Avellar Coutinho, tive o
privilégio, o que ocorria de quando em quando, de com ele conversar sobre o
marxismo-gramscismo, assunto que dominava e sobre o qual explanava com extrema
maestria, segurança, profundidade e serenidade.Há que se lembrar que
ele, dentre os grandes estudiosos do assunto, foi o único que escreveu sobre a
concepção revolucionária gramscista, sob forma didática, mostrando uma
sistematização de sua operacionalidade.
Os dois livros que deixou,
primorosos, “A Revolução Gramscista no Ocidente” (de 2002) e “Cadernos da
Liberdade” (de 2003), apresentam Antonio Gramsci como um marxista inovador, não
renegando ele o objetivo principal do marxismo-leninismo, porém, propondo para
atingi-lo, nas sociedades democráticas e capitalistas, que chamou de ocidentais
e nas quais se insere o Brasil, a estratégia da “Guerra de Posição” (conquista
não violenta do poder, embora da violência não descarte em algum momento),
traduzindo envolvimento longo e obstinado, ao contrário da estratégia da “Guerra
de Movimento” que se caracteriza, fundamentalmente, pelo uso da luta armada em
ataque frontal ao Estado existente.Importantes para tal tipo de guerra,
indica Gramsci a formação dos “Intelectuais orgânicos” (políticos qualificados,
dirigentes e organizadores, formados no partido, para orientar, influenciar e
conscientizar as massas), objetivando a busca da “hegemonia”, dentro da
“sociedade civil”, das “classes subalternas” (trabalhadores) bem como o
consenso, nas áreas psicológica e cultural.
Ao mesmo tempo, utilizando-se
principalmente do patrulhamento ideológico e do politicamente correto, não só
objetiva o envolvimento da “burguesia” (enquanto classe dirigente),
“amestrando-a”, isto é, fazendo-a superar o senso comum até então vigente (senso
comum é o conjunto das opiniões aceitas pela generalidade das pessoas da
sociedade, fazendo com que opiniões discrepantes pareçam desajustadas),
impregnando-a de novos valores e cultura, como também preconiza a assimilação e
conquista ideológica dos “intelectuais tradicionais” (cientistas, filósofos,
professores, escritores, artistas e profissionais dos meios de comunicação),
transformando-os em aliados, companheiros de viagem ou em inocentes
úteis.O grande objetivo, segundo Gramsci, é a profunda e gradativa
transformação política e cultural de toda a sociedade, substituindo valores de
naturezas variadas, mudando padrões morais e a própria História do
País.
Qualquer semelhança com o que vem ocorrendo no Brasil não é mera
coincidência, porém, realidade palpável, encontrada, principalmente, nas
iniciativas governamentais, como o Programa Nacional de Direitos Humanos, cujos
efeitos podem ser encontrados nas escolas, desde o primeiro grau, como também na
leitura diária dos jornais e nos demais meios de comunicação.Assim, o
General Coutinho, sempre enfatizando que fazia a sua parte, tal qual o sabiá que
carregava água no bico para ajudar a apagar o incêndio na floresta, com o fito
de salvar o seu ninho, não perdia oportunidade para demonstrar o quanto avançado
está este processo revolucionário marxista-gramscista no Brasil, propiciando,
já, profunda transformação política, histórica e cultural.
Desejava ele
abrir os olhos daqueles que, por ignorância, incredulidade ou omissão, não
cumprem o dever de a este processo se opor. Entre eles, os chefes militares,
pois, consideram, os marxistas –gramscistas, as Forças Armadas como a última
trincheira a ser conquistada na “Guerra de Posição”. Se “domesticadas”, não
haverá mais qualquer oposição na caminhada para a “transição para o Socialismo”,
isto é, para o comunismo.
O domesticar as Forças Armadas, ensinava o
General, “se traduz por inibir a sua capacidade de oposição ao avanço lento e
gradual do processo revolucionário marxista-gramscista, intimidando-as e
desmoralizando-as perante a sociedade nacional. Trata-se de anular qualquer
possibilidade de que venham a ser, novamente, baluarte da Democracia. Que não
repitam 1964, impedindo um futuro assalto ao Poder por alguma das tendências
revolucionárias existentes e ativas no desfecho da transição para o socialismo
em curso em nosso País”.
O processo de domesticação das Forças Armadas não
ficará apenas na ação da chamada Comissão da Verdade (que já não se porta
conforme o pré-estabelecido com as FFAA), agindo, ao arrepio da lei, somente
contra os Agentes do Estado, valendo-se de mentiras e de meias-verdades.
Paralelamente, sem o apoio dos atuais chefes, como ocorre com o Cel Ustra e
outros, certamente serão levados à barra dos tribunais, ilegalmente, com a
conivência de procuradores e de juízes revanchistas, os que combateram a
subversão, o terrorismo e as guerrilhas urbana e rural nas décadas de 60 e de
70.
Os militares, que cumpriram ordens legais, tornaram-se
bandidos e os reais bandidos tornaram-se heróis. A Intentona Comunista e a
Contra-Revolução de 64 devem ser tomadas como fatos a esquecer e desaparecer nas
brumas do tempo, em nome de uma reconciliação unilateral.
O caso do
cadete Lapoente torna-se emblemático de tal domesticação: Foram consumadas, sem
reação, afronta à soberania nacional, desmoralização da Justiça Militar e a
profanação de um santuário militar, a AMAN, onde colocou-se placa maldita. Foram
aceitas, ainda, ingerências externas, consubstanciadas por solicitação ao
Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), para análise de 23
supostas violações aos direitos humanos, ocorridas no âmbito das Forças Armadas,
conforme estudo elaborado pelo grupo marxista Tortura Nunca Mais (GTNM/RJ) e,
ainda, por alterações no “curriculum” escolar de formação de oficiais e praças,
sob a orientação da Comissão Interamericana de DH/OEA.
Como dizia o gen
Coutinho, que já preconizara a trajetória da Comissão da Verdade, novas
“reformas democráticas” poderão advir: reformulação do sistema de inteligência
militar; reforma da destinação constitucional das Forças Armadas; revisão dos
regulamentos disciplinares incluso com a aceitação aberta de casamentos gays;
revisão da Lei de Anistia; “democratização” das escolas militares de formação de
quadros e do treinamento dos recrutas.
E arrematava o lúcido e valoroso
General: “Embora despercebido pelas aparências da prática democrática, um
movimento revolucionário da esquerda está em curso no Brasil. Só as pessoas de
muito boa-fé não percebem isto. O momento que vivemos é, ainda, de correlação de
forças políticas. Por isto, só os políticos e as organizações e partidos
liberais democráticos poderão deter a marcha das esquerdas para o socialismo
monocrático e opressor. Os brasileiros esclarecidos e responsáveis não podem
ignorar o que está efetivamente acontecendo e devem iniciar a resistência
política e ideológica enquanto é tempo.”
Marco Antonio Felicio da Silva é General de Divisão na Reserva.
Imagem inserida pelo Blog.
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