2 de dez. de 2012

A fritura do oráculo

Por Pedro Luiz Rodrigues
No trato da economia e das finanças, assim como no das relações exteriores, exige-se dos agentes do Estado sempre absoluta sobriedade.  Isso porque é a palavra medida, a ação comedida, o realismo de avaliação, que incrementam a credibilidade e o acesso. 
Crescer um pouco mais, ou um pouco menos, não é esse o verdadeiro problema. O nó da questão é a perda da credibilidade do Governo brasileiro, pela voz do Ministro da Fazenda. 
Ao ver crescimento extraordinário onde ele é apenas ordinário, e fazendo prognósticos ainda mais extraordinários do que os não realizados, além de fazer  Sua Excelência parecer exótico, torna-o como o responsável único dos maus resultados que, sabemos todos, não são sós seus. 
Pergunto-me se o Ministro insiste em repetir-se nesse ingrato papel de oráculo de profecias não cumpridas por sponte própria, ou para atender recomendação ou ordem vinda de mais acima.

Há quase dezenove anos, quando iniciou a implantação do Plano Real, o Brasil decidiu que era hora de deixar de fazer gracinhas consigo mesmo e deixar de lado os hábitos de uma persistente adolescência folgazã. Na economia, mais do que na esfera das relações políticas, maturidade e bom-senso substituíram a pirotecnia heterodoxa.

Não é por outra razão que os jovens brasileiros, criados num mundo de estabilidade que seus pais e avós não conheceram, estão material e psicologicamente preparados para conduzir os brasileiros para um futuro qualitativamente muito melhor. 

Mas, cuidado! No trato da economia e das finanças, assim como no das relações exteriores, exige-se dos agentes do Estado sempre absoluta sobriedade.  Isso porque é a palavra medida, a ação comedida, o realismo de avaliação, que incrementam a credibilidade e o acesso.

A fanfarronice palanqueira, como a de Chávez, ou o jogo de ocultação (que por muito tempo praticaram as autoridades gregas e espanholas, insistindo em apresentar como sólidas suas respectivas diarréicas realidades econômicas) fazem parte do mesmo repertório de enganação.

Lemos, portanto, com preocupação, a notícia publicada nos jornais estrangeiros, hoje, dando conta de que “ao contrário do que esperavam as autoridades brasileiras, a economia brasileira registrou crescimento anêmico no terceiro trimestre”. A conclusão óbvia, como a reportada pelo New York Times, é a de que “tais resultados lançam dúvidas sobre as políticas adotadas para evitar que o Brasil se tornasse uma lesma no contexto das economias latino-americanas”.

Permito-me abrir aqui um parênteses: ao contrário do que esperavam as autoridades brasileiras, coisíssima alguma, ao contrário do que esperava única e exclusivamente o Ministro Guido Mântega.

Crescer um pouco mais, ou um pouco menos, não é esse o verdadeiro problema. O nó da questão é a perda da credibilidade do Governo brasileiro, pela voz do Ministro.

Voltemos a nosso tema: os dados sobre o comportamento do PIB no terceiro trimestre são efetivamente maus, com crescimento de 0,6% em relação ao segundo trimestre e 0,9% sobre igual período de 2011. As estimativas para 2012, como um todo, caíram para em torno de 1%. 

Mas pior do que os dados foi a nova aparição do Ministro Mântega para explicá-los. Foi chocante. Poderiam tê-lo poupado, e a nós também, desse dissabor. Ser otimista, em janeiro, em relação ao ano que se abre, ainda vá lá, pode ser atribuído ao otimismo instilado pelo espumante nos festejos. Mas na altura em que estamos do campeonato, vir dizer que estamos numa trajetória importante de crescimento..., convenhamos.

Ao ver crescimento extraordinário onde ele é apenas ordinário, e fazendo prognósticos ainda mais extraordinários do que os não realizados, além de fazer  Sua Excelência parecer exótico, torna-o como o responsável único dos maus resultados que, sabemos todos, não são sós seus.

Pergunto-me se o Ministro insiste em repetir-se nesse ingrato papel de oráculo de profecias não cumpridas por sponte própria, ou para atender recomendação ou ordem vinda de mais acima. 

Se assim for, temo que Sua Excelência esteja sendo fritado em fogo lento. A próxima mudança ministerial nos dirá...

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