PLANO 
PERFEITO
Percival 
Puggina
 ZERO HORA, 21 de abril de 
2013

A Coreia do Norte, onde só existe o Partido dos Trabalhadores da Coreia, é governada há mais de meio século por uma espécie de monarquia comunista que já está na terceira geração.
Segundo Human Rights Watch, os 
norte-coreanos são as pessoas mais brutalizadas no mundo. A sociedade é 
organizada em castas segundo a lealdade ao regime. Comparada a ela, até Cuba se 
transforma em paraíso de luxuriantes e extravagantes liberdades. 
Pois bem, quando, em dezembro de 2011, 
morreu Kim Jong-il (ditador cujos campos de concentração fariam inveja a 
Stalin), o PCdoB, em meio a soluços, pranteou mensagem de condolências aos 
camaradas pela irreparável perda. 
Agora, nestes dias, o tiranete que 
herdou do pai a propriedade do país como se fosse fazendola, ou relógio de 
estimação, rufa tambores de guerra. Guerra nuclear. 
E 
novamente o PCdoB, anunciando endosso do PT e do PSB (que juram não haverem 
endossado coisa alguma), mais a UNE, o MST e diversas organizações de calibre 
semelhante, manifestam-se em "irrestrito e absoluto apoio" a Kim Jong-un,  qualificando sua atitude belicosa como ato de soberania e dignidade. 
Ruim, não? 
O 
sujeito viu o muro de Berlim ser erguido e tinha certeza de que o lado de lá era 
melhor do que o de cá. Torceu pela União Soviética, pela 
China maoísta, pelos vietcongs, pelo Khmer Vermelho, pelas Brigate Rosse. Vestiu camiseta do Che. Colou no guarda-roupa fotos do Danny 
le Rouge. Sacudiu bandeirinha de Cuba. Atendendo apelo de Fidel, passou uma 
temporada lá, em 1969, cultivando cana. Vociferou contra a Primavera de Praga. Aplaudiu as ações dos tanques chineses 
na Praça da Paz Celestial. Bebeu champanhe no September 11.
Fez tudo direitinho. Votou no partidão 
e no partidinho. Imaginou? 
Agora, veja bem o que aconteceu com 
ele. Seus atuais porta-vozes e líderes são tipos como Lula, José Dirceu, Hugo 
Chávez, Daniel Ortega, Evo Morales, Ahmadinejad, Kim Jong-un. Pensa numa 
democracia construída sobre aquelas idéias. Não há. Busca livro que junte os 
cacos e reorganize consistentemente uma visão de mundo sobre tais bases. Nada. 
Procura um estadista de boa estirpe para seguir. Ninguém. Dureza! O comunismo 
nunca foi melhor.
Pois bem, cem milhões de mortos 
depois, contado um século inteiro de fracassos, o Brasil deve ser dos raros 
países onde dizer-se que alguém é anticomunista soa como desqualificação. Coloca 
a vítima do adjetivo no rol dos retardados intelectuais. Vale por um tiro na 
nuca.
Perceba, leitor, a engenhosa malícia 
capaz de produzir uma coisa dessas. Malícia lograda mediante persistente 
trabalho desenvolvido na imprensa, nas salas de aula, nos comentários políticos, 
nas conversas de botequim e no ambiente cultural. Comunista come criancinha? 
Quá, quá, quá! Graças a essa conjugação de ironias e sofismas, a carga 
esmagadora das monstruosidades praticadas em nome do comunismo foi jogada na 
vala comum com seus fracassos. 
Pelo avesso dos fatos e da história, a 
maligna doutrina foi sendo reapresentada como coisa de gente moderna, cuca 
fresca. 
Chega-se, por fim a duas realidades 
contraditórias: numa, o comunismo, seus símbolos, organizações políticas e 
ilusórias mensagens trafegam com desenvoltura, leves de qualquer carga 
histórica, no ambiente social e político do país; noutra, convivem, 
esplendidamente, com a ideia de que ele mesmo acabou e não tem mais qualquer 
plano, projeto, estratégia ou significado entre nós. 
Pode haver significado, estratégia, 
projeto ou plano mais perfeito?
 
 
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