A Constituição
de 1985 consolidou um pacto político, no qual todas as forças vivas –
exceto o PT – concordaram em fazer a transição política, enterrando o
ciclo militar. Esse pacto foi capitaneado por forças de esquerda, tendo à
frente o MDB e a sua versão novel, o PSDB. Era a social-democracia
chegando com toda força no Brasil. O apoio desse grupo era dado pelas
forças conservadoras, as mesmas que deram sustentação ao regime militar,
notadamente as que estavam filiadas ao PFL. O auge desse pacto se deu
no segundo governo de FHC, que não conseguiu fazer o sucessor.
O
PT tinha razões para não apoiar o pacto de transição. A principal é
que, dentro dos seus quadros, estavam os mais aguerridos beligerantes
contra o regime militar. Não se conformaram até hoje com a Lei da
Anistia. Queriam, e ainda querem, submeter os militares aos julgamentos
sumários de seus tribunais. Enquanto FHC governou, os pagamentos a
título de indenizações pelas Comissões de Anistia foram módicos e
rigorosos. O PT no poder destravou todas as amarras morais e
orçamentária e vimos a verdadeira ação entre amigos que foi feita.
O
PT se manteve irredutível porque é um partido revolucionário e o tempo
mostrou que a cara feia e o “não” podem ser bons de voto. Os antigos
guerrilheiros e seus amigos sindicalistas souberam esperar e usaram da
persistência. Pouco a pouco foram tomando o poder –primeiro na cidade de
São Paulo, depois o governo do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e
finalmente, em 2002, elegeu Lula para ser o presidente do Brasil. Sua
chegada ao poder rompeu o antigo pacto político que dava sustentação ao
poder. Lula fundou um novo pacto.
De primeira hora teve o grupo
ligado ao Sarney, que não suportava o ungido de FHC, José Serra, para
sucedê-lo. Quando ficou claro que o PT poderia ganhar, as adesões foram
se sucedendo, tanto no meio político como no meio empresarial. Os
banqueiros, cerca de três meses antes das eleições, selaram seu apoio e
escreveram para Lula a tal “Carta ao Povo Brasileiro”. Henrique
Meirelles foi o fiador junto aos plutocratas, assumindo a presidência do
Banco Central ao preço de abandonar o mandato parlamentar conquistado
pro Goiás. Não haveria qualquer espécie de auditoria nas dívidas interna
e externa e esse foi o preço pago pelo PT para pôr os banqueiros a seu
lado. Não se falou mais em auditorias.
No início, os neófitos do
PT, liderados por José Dirceu, tentaram, via Mensalão, prescindir de
base parlamentar orgânica, no exercício mais gigantesco e cínico de
compra de votos no Congresso Nacional da história do Brasil. Mesmo ali
já se notava que as resistências ao projeto político do PT estavam
minadas. Não apenas o grupo do Sarney, mas o de Roberto Jefferson e
tantos outros, na conta do Mensalão, perceberam que não haveria como
sobreviver contra o PT. Era ou aderir ou desaparecer. As oligarquias
regionais foram feridas de morte pelo petismo.
Com o passar dos
anos entrou em cena o comando dos tribunais superiores, entes que também
exercem funções legislativas e são vitais para a governabilidade. Os
novos ministros abraçaram sem restrição a cartilha revolucionária do
petismo e questões como as terras indígenas, os quilombolas e aborto de
anencéfalos passaram no SFT por folgada maioria. A moral cristã estava
ali em xeque. Depois veio a questão do gaysismo, que ainda está por ter
uma solução definitiva, não sem antes se ver a aprovação da união de
pessoas do mesmo sexo, contra a letra da Constituição. O aborto em
qualquer momento da gravidez está à espera de aprovação.
Nesse
período, duas foram as derrotas notáveis do PT: não ter aprovado o
terceiro mandato de Lula e não ter prorrogado a CPMF. As parcas energias
conservadores dentro da própria base governista se uniram para derrotar
essa pretensão tão hegemônica. Foi uma lição para o PT, que aprendeu
que precisa emagrecer paulatinamente as forças legislativas das
oligarquias, ainda vivas. O tempo, todavia, estava a seu favor. O PT tem
trabalhado brilhantemente com a variável tempo.
O último gesto
retumbante de adesão ao projeto político do PT foi-nos informado pelos
jornais de hoje, com a nomeação de Guilherme Afif Domingos para um
ministério de Dilma Rousseff, nomeadamente o que vai cuidar das Pequenas
e Médias Empresas. Afif sempre foi tido por liberal e desde sempre
estava na canoa do PSDB. Seu fiel escudeiro, Gilberto Kassab, que nada
faz sem sua prévia bênção, já havia traído os parceiros em eleições
majoritárias, mas foi com a fundação do seu PSD que a coisa ficou
escancarada. “Nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”,
proclamou. A adesão do então prefeito de São Paulo era ela mesma a
adesão de Guilherme Afif Domingos, agora selada com sua nomeação para o
ministério.
Paradoxal é que ele vai cuidar de uma pasta inócua,
visto que o plano econômico do PT, desde 2002, é fortalecer os grandes
oligopólios nacionais, com o confesso intuito de fazer o Brasil produzir
multinacionais brasileiras. O PT é inimigo da pequena e média empresa,
que feneceu a olhos vistos desde que Lula assumiu. Afif, assim, ajuda o
PT encobrir um dos maiores crimes políticos que o PT cometeu. E o fez de
caso pensado, pois a pequena burguesia capitalista detesta o socialismo
e abraça o liberalismo.
O novo pacto que governa o Brasil é
esse em que não haverá oposições. É um pacto em que o partido governante
dá as cartas e impõe a agenda política e cultural. Aos parceiros cabem
apenas ganhar dinheiro com as facilidades do poder. Sua participação na
governança do Estado é meramente formal, em cargos sem poder de decisão.
O Brasil vive, sob esse pacto, em um regime de partido único, que se
confundiu com o Estado.
O processo é muito parecido com o que
houve na Alemanha de Hitler. Uma vez no poder, pelo voto, só saiu à
força, não sem antes cometer as maiores arbitrariedades e os maiores
crimes. A marcha forçada no Brasil é na mesma direção. Não há mais
forças políticas organizadas internas capazes de tirar o PT do poder.
Imagens inseridas pelo Blog
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Antecipadamente agradeço seu comentário. Magal