A Lenda da Arte Real
Muito interessante. Trata-se da lenda sobre a origem da Maçonaria.
Tradução do Manuscrito de Dowland, como publicado em The History of Freemasonry - Its Legendary Origins de Albert Gallatin Mackey.
Queridos irmãos e discípulos.
Nosso propósito é contar-lhes de que maneira teve início esta valiosa Ciência da Maçonaria e, em seguida, como ela foi prestigiada por reis e príncipes poderosos e por muitos outros homens importantes. Também iremos esclarecer àqueles de bons costumes, a responsabilidade que cabe ao verdadeiro Maçon em manter-se em boa-fé. E nós temos que atentar bem para isso, pois é necessário comportar-se honradamente para praticar uma arte valiosa e uma Ciência de qualidade.
Existem sete Ciências Liberais, sendo uma delas a base das demais. E os nomes dessas Ciências Liberais são estes: a primeira é Gramática e ela ensina ao homem a falar e a escrever corretamente; a segunda é Retórica, que ensina ao homem a expressar-se com beleza e habilidade; a terceira é Dialética, que ensina ao homem a discernir ou extrair o verdadeiro do que é falso; a quarta é Aritmética, que ensina ao homem a calcular e todas as maneiras de utilizar os números; a quinta é chamada Geometria, que é aquela que ensina a marcar e medir a terra e muitas outras coisas; esta Ciência também é chamada Maçonaria. E a sexta Ciência é chamada Música e é aquela que ensina ao homem o canto e a melodia, da voz e do órgão, da harpa e da trompa. E a sétima Ciência é chamada de Astronomia e ensina ao homem a trajetória do sol, da lua e das estrelas.
Estas são as Ciências Liberais, todas elas baseadas em uma única, a Geometria. E qualquer um pode provar que a Ciência do trabalho fundamenta-se na Geometria, pois a Geometria ensina ao homem a marcar e medir, a ponderar e pesar todo tipo de coisa sobre a terra, pois não há nenhum homem que tenha lidado com qualquer Ciência sem fazer uso de alguma marcação ou medida; nem nenhum homem que tenha comprado ou vendido, que não fosse através de alguma medida ou peso, e tudo isso é Geometria. E ela é usada pelos mercadores e todos os artesãos e por todos os que trabalham com as Ciências Liberais, inclusive os agricultores e lavradores. Nem a Gramática ou a Retórica, nem a Astronomia ou nenhuma das outras Ciências Liberais pode, de maneira alguma, marcar ou medir sem o emprego da Geometria. Portanto, eu concluo que a Ciência da Geometria é a mais valiosa e a que deu origem a todas as outras. E como essas notáveis Ciências foram criadas, eu vou contar-lhes.
Antes do dilúvio de Noé, havia um homem chamado Lameche, como está escrito na Bíblia, no capítulo IV da Gênese. E Lameche tinha duas esposas, uma chamada Ada e a outra chamada Sella. De sua primeira esposa, Ada, ele teve dois filhos, Jabell e Tuball, e de sua outra esposa, Sela, ele teve um filho e uma filha. E essas quatro crianças criaram as bases de todas as Ciências no mundo. E seu primogênito, Jabell, criou a Ciência da Geometria; e ele dividiu rebanhos de ovelhas e cordeiros em pastos no campo, e foi ele quem construiu a primeira casa de pedra e madeira 6, como consta no capítulo citado. E seu irmão, Tuball, criou a Ciência da Música, da melodia do canto, da harpa e do órgão. E o terceiro irmão, Tuball Cain, descobriu a fundição do ouro, da prata, do cobre, do ferro e do aço. E a filha de Lameche 7 descobriu a arte da Tecelagem.
E estas crianças bem sabiam que Deus estava para puni-los, por meio do fogo ou da água. Portanto, eles escreveram todo o conhecimento dessas Ciências que haviam descoberto em dois pilares de pedra, que foram encontrados após a inundação de Noé. E uma dessas colunas era de mármore, porque não queimaria com fogo, e a outra era de latão 8, porque não poderia ser destruída pela água. Nossa intenção é contar-lhes como e de que maneira foram encontradas essas colunas que guardavam os ensinamentos das Ciências.
O grande Hermarynes, que era filho de Cuby, que era o filho de Sem, que era filho de Noé, e que posteriormente foi chamado Hermes 9, o pai dos homens sábios, achou um dos dois pilares de pedra, e descobriu a Ciência escrita lá, transmitindo esse ensinamento a outros homens 10.
E já na época da construção da Torre da Babilônia a Maçonaria realizava muitos de seus primeiros trabalhos. O Rei da Babilônia, que se chamava Nimrod, era, ele mesmo, um Maçom e prestigiou muito a Ciência, assim dizem os historiadores. E quando a Cidade de Nínive e outras cidades do Leste precisaram ser construídas, Nimrod, o Rei da Babilônia, enviou trezentos Maçons para lá, a pedido do Rei de Nínive, seu primo.
E quando ele os enviou, ele lhes deu as seguintes recomendações: que eles deveriam ser leais uns aos outros e que deveriam juntos amar a verdade; e que eles deveriam servir lealmente a seu Senhor, para fazer jus a seu pagamento, pois assim o Senhor poderia dar outros trabalhos para eles. E deu-lhes ainda outras recomendações e esta foi a primeira vez que os Maçons tiveram regras na Ciência deles.
Mais tarde, quando Abraão e Sara, sua esposa, chegaram ao Egito, ele ensinou as Ciências Liberais aos Egípcios. E ele teve um discípulo valoroso, chamado Euclides 11, que aprendeu muito bem e foi um Mestre de todas as sete Ciências Liberais.
E aconteceu que, naqueles dias, o Senhor e os nobres do reino tiveram muitos filhos, alguns de suas esposas e alguns de outras damas do reino, porque aquela era uma terra quente e bastante procriadora. Mas eles não tiveram a capacidade de criar essas crianças, de encontrar um lugar seguro para elas. Então o Rei daquelas terras reuniu um grande Conselho e um Congresso, para descobrir como eles poderiam criar suas crianças honestamente, como cavalheiros. E eles não encontraram nenhuma boa solução. Então eles fizeram proclamar por todo o reino que, se houvesse algum homem que pudesse ajudá-los, ele deveria vir a eles, pois seria recompensado por seu trabalho, se os deixasse satisfeitos.
Depois que esse apelo foi feito, veio o puro e honrado Euclides e disse ao Rei e seus Senhores: - “Se vós me entregardes vossos filhos, eu os irei educar e ensinar uma das Ciências Liberais e eles poderão viver honestamente como cavalheiros. Mas haverá uma condição: vós concedereis a mim autoridade para que possa governá-los da maneira recomendada pela Ciência.” E o Rei e todo o seu Conselho concederam a ele essa autoridade.
E assim esse digno Doutor recebeu os filhos dos Senhores e ensinou a eles a praticar a Ciência da Geometria, a trabalhar as pedras de todas as maneiras, na construção de igrejas, templos, castelos, torres e minaretes e todos os outros tipos de edificações; e ele deu-lhes as seguintes recomendações: a primeira era de que eles deveriam ser leais ao Rei e ao Senhor a que servissem; e que eles deveriam amar-se e serem leais uns aos outros; e que deveriam tratar-se por companheiros ou então irmãos, e não por criados ou escravos ou nenhum outro nome depreciativo. E que eles deveriam fazer jus ao pagamento do Senhor a que servissem. E que eles deveriam eleger o mais sábio deles para ser o Mestre dos trabalhos; e que nem por amizade, nem pela descendência, nem por sua riqueza, nem por nenhum favor deveriam deixar alguém com menor capacidade ser o dirigente das obras de um Senhor, pois dessa forma o Senhor seria mal-servido e eles se envergonhariam. E também que eles deveriam chamar de Mestre aos que dirigissem o trabalho, durante o tempo em que trabalhassem com eles. E muitas outras regras que levaria tempo para relatar. E a todas essas regras ele os fez prestar um grande juramento, como os homens costumavam fazer àquela época. E ainda estabeleceu para eles salários razoáveis, através dos quais eles pudessem viver honestamente. E também disse-lhes que eles deveriam se reunir uma vez por ano, para discutir como poderiam trabalhar melhor para atender ao interesse de seus Senhores e de seu próprio Ofício. E também para corrigirem, entre eles, aquele que houvesse atentado contra a Ciência. E assim a Ciência lá se consolidou; e esse honrado Senhor Euclides deu-lhe o nome de Geometria. E agora ela é chamada de Maçonaria por toda essa terra.
Muito tempo depois, quando os filhos de Israel estavam entrando na Terra Prometida, como é agora conhecida entre nós, o Rei David começou o Templo que eles chamaram de Templo D’ni e que é chamado por nós de Templo de Jerusalém. E esse mesmo Rei David bem amava os Maçons e os apreciava e lhes dava bom pagamento. E ele lhes ditou as regras e os costumes, como ele havia aprendido do Egito, ensinadas por Euclides, e ainda outras regras que vocês irão ouvir posteriormente.
E após o desaparecimento do Rei David, Salomão, que era filho de David, completou a construção do Templo que seu pai iniciara; e depois enviou Maçons para diversas terras e diversos países; e reuniu quarenta mil trabalhadores, e todos eram chamados Maçons. E ele escolheu três mil entre eles, que foram nomeados Mestres e dirigentes de seus trabalhos. E também havia um Rei de outra região, que os homens chamavam de Iram 12, que bem amava o Rei Salomão e o auxiliou no seu trabalho. E ele tinha um filho que se chamava Aynon 13, que era um Mestre da Geometria, e foi o Grão-Mestre de todos os Maçons e o dirigente de todas as construções e escavações e de todos as obras da Maçonaria que remontam à época do Templo. Isto é testemunhado pela Bíblia, no terceiro capítulo do “Libro Regum”. E esse Salomão confirmou as regras e os costumes que seu pai havia dado aos Maçons. E assim esta meritória Ciência da Maçonaria consolidou-se na terra de Jerusalém e em muitos outros Reinos.
Maçons experientes viajaram longas distâncias, por diversos países, alguns para conhecer mais artes e técnicas e outros para ensinar àqueles que tinham pouco conhecimento. E assim aconteceu que havia um experiente Maçon, que se chamava Maymus Grecus 14, que participara da construção do Templo de Salomão, que foi até à França e lá ensinou a Ciência da Maçonaria aos franceses. E havia um homem da linhagem real da França, que se chamava Carlos Martelo, que apreciou bastante essa Ciência e aproximou-se desse Maymus Grecus, sendo instruído por ele nessa Arte e aprendendo suas regras e costumes. E depois, pela graça de Deus, tendo sido escolhido para ser o Rei da França, ele auxiliou os Maçons em seus domínios a tornarem Maçons homens que não o eram. E colocou-os a trabalhar, dando-lhes as leis e as técnicas e bom pagamento, como aprendera de outros Maçons. E garantiu-lhes o direito de realizar uma assembléia anual quando eles desejassem; e teve muita consideração por eles. E foi assim que essa Ciência foi introduzida na França.
Durante todo esse tempo a Inglaterra esteve alheia a qualquer Regra da Maçonaria, até à época de Santo Albano 15, que, nos tempos de um Rei da Inglaterra que era pagão, ergueu os muros da cidade que é chamada de Saint Albones.
Santo Albano foi um honrado Cavaleiro que administrou o palácio real e as propriedades do Rei, e também a construção dos muros da cidade; e bem amou os Maçons e os apreciou muito. E ele deu-lhes bons salários, pagando-lhes dois Shillings por semana e três Pence por dia para sua alimentação. Antes disso, um Maçon não ganhava mais que um Penny por dia para alimentar-se, até que Santo Albano corrigiu isso. E ele obteve para eles a autorização do Rei e de seu Conselho para realizarem uma reunião geral e deu a ela o nome de Assembléia; e como era um deles, ajudou-os a fazer novos Maçons e ditou-lhes leis, como ireis ouvir mais adiante.
Imediatamente após a morte de Santo Albano, ocorreram diversas guerras no reino da Inglaterra, contra diversas Nações, de maneira que as boas Leis da Maçonaria foram abandonadas, até os dias do Rei Athelstone, que foi um valoroso Rei da Inglaterra que trouxe paz e tranquilidade a esta terra e realizou grandes trabalhos de construção de Abadias e Torres e muitos outros edifícios diversos, e que bem amou os Maçons.
E ele teve um filho, chamado Edwin, que amou os Maçons ainda muito mais que seu pai. Como ele era um grande praticante da Geometria, isso o levou a aproximar-se dos Maçons, para conversar e aprender a Ciência deles. Mais tarde, pela dedicação que ele teve aos Maçons e à Ciência, ele também foi feito Maçon. E ele obteve do rei seu pai, a garantia e a autorização para realizar a cada ano uma Assembléia, onde eles desejassem, dentro do reino da Inglaterra, para corrigirem entre eles as faltas e transgressões cometidas contra a Ciência. E ele mesmo organizou uma Assembléia em York, para os Maçons, e ditou-lhes Leis e lhes ensinou os costumes, e determinou-lhes que aquelas Leis deveriam ser mantidas desde então e fez com que jurassem isso e determinou-lhes que esse juramento deveria ser renovado perante cada novo rei.
E quando a Assembléia se reuniu, ele fez um apelo para que todo Maçom, jovem e velho, que tivesse algum documento ou conhecimento sobre Leis e costumes estabelecidos anteriormente, nesta terra ou em qualquer outra, levasse isso ao seu conhecimento. E quando foi feita a verificação, foram encontrados alguns documentos em Francês, e alguns em Grego, e alguns em Inglês, e alguns em outras línguas. E como o desejo dele era fundir todos em um único documento, ele impôs a si mesmo a tarefa de ler e ouvir o que cada Maçon trouxe à sua presença. E ele fez um livro disso e dos fundamentos da Ciência. E desde esses dias até hoje os costumes dos Maçons foram mantidos daquela forma, tanto quanto os homens puderam controlar. E, além disso, diversas Assembléias acrescentaram outras leis, ditadas pela sabedoria de Mestres e Companheiros.
Assim, sigam as leis que foram estabelecidas na Assembléia de York e em outras Assembléias Gerais, e não as que não fazem parte da Lenda, ou que, no mínimo, não estejam ligadas a um aspecto lendário do nascimento e progresso da Instituição.
A Lenda termina com o relato, aqui omitido, de uma Assembléia em York e outras subsequentes, com o propósito de promulgar leis para o governo da Ordem.
[1] Constituições - Anderson, 1738, página III.
[2] Publicado no “Gentleman’s Magazine”, Vol 85, página 489, maio de 1815.
[3] “Legend of the Craft” ou “Legend of the Guild”.
[4] Esta parte normativa da lenda foi omitida.
[5] Tradução do capítulo IV - “The Legend of the Craft”, em “The History of Freemasonry - Its legendary Origins”, Mackey, Albert A., Gramercy Books, New York, 1996, realizada em março de 1999 pelo Ir.: José Magalhães de Souza, da A.:R.:L.:S.: Orfeu Paraventi Sobrinho, N.: 375, da G.:L.:E.:S.:P.:
[6] Albert Mackey observa que este é um exemplo da inexatidão desses antigos registros históricos. Assim, longe de Jabell ter sido o homem que “construiu a primeira casa de pedra e madeira”, ele é que deu origem ao estilo de vida nômade, no qual essas construções nunca eram utilizadas. Ele inventou as tendas, feitas muito provavelmente de peles, para servirem de moradia temporária aos povos de pastores, que necessitavam periodicamente remover seus rebanhos para novas pastagens.
[7] Neema, que teria sido casada com Noé (NT)
[8] No original “laterus”, uma substância que não seria destruída pelas águas.
[9] Hermes Trismegistus (NT)
[10] O outro teria sido encontrado por Pitágoras, mas isso não consta do Manuscrito de Dowland (NT)
[11] Matthew Cooke, em suas Notas ao Manuscrito conhecido por seu nome, que publicou em 1859 (e que seria datado de 1490), defendeu-se da acusação de ser o responsável pela cronologia que torna Abraão e Euclides contemporâneos. Na verdade, esta lenda de Euclides é somente um símbolo.
[12] Hiram.
[13] Hiram Abif
[14] Albert Mackey considera este nome um enigma e tece a conjetura de que possivelmente não se trata de nome próprio, mas de uma referência a um “homem grego” (NT).
[15] St. Alban, o primeiro martir da Inglaterra.
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