TIRO DE CANHÃO, TIRO NO PÉ
Eliane Cantanhêde - Folha de S.Paulo
A semana passada foi de crise e esta será de sorrisos e salamaleques, mas a crise continua. O
grande problema não é de forma e de retórica apenas, mas sim de
conteúdo. Logo, a crise só acaba com o fim de seus dois pivôs.
São
eles um projeto que visa aniquilar uma candidatura e enfraquecer a
oposição em favor da reeleição da presidente e outro que dá ao Congresso
poder de veto em decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal
(Supremo Tribunal Federal!).
Seria cômico, não fosse trágico.
Até
casuísmos têm limite, e o Congresso aprovar a lei pró-Dilma e anti
Marina a um ano e pouco da eleição tem um ranço "bolivariano" incompatível com o Brasil.
As regras não favorecem o rei (ou a rainha) ? Mudem-se as regras!
E
o projeto de emenda constitucional aprovado em minutos pela CCJ da
Câmara para atacar e retaliar o Supremo é de uma violência e de uma
irresponsabilidade poucas vezes vistas na democracia deste país. Uma
ousadia sem tamanho, iniciada por um parlamentar do partido do governo e
encaminhada alegremente (ou seria o oposto, raivosamente?) pelos que
não se conformam com a independência e a lisura do Supremo no julgamento
do mensalão.
A corte suprema não se rendeu ao poder ? Puna-se a corte!
Ao
se reunirem amanhã, distribuindo sorrisos e amabilidades diante das
câmeras, o ministro Gilmar Mendes e os presidentes da Câmara e do
Senado, Henrique Alves e Renan Calheiros, darão mostras de civilidade e
responsabilidade. Mas o problema transcende a eles.
O
que Lula, Dilma, o PT e parte do PMDB não percebem é que,
radicalizando, fortalecem o outro lado e a ideia de um bloco alternativo
ao projeto Lula-Dilma. Os
dois projetos e a crise criaram o ambiente perfeito para um acordo de
cavalheiros (e de damas) entre Aécio, Eduardo Campos, Marina e seus
seguidores.
Seriam tiros de canhão, viraram um tiro no pé do PT.
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