18 de jan. de 2011

Rosário critica Defesa por ir à Justiça
para achar desaparecidos políticos
18Jan 2011

Polícia Federal diz não ser sua função participar desse tipo de investigação - Evandro Éboli 

BRASÍLIA. A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, criticou duramente a iniciativa do Ministério da Defesa de recorrer à Justiça Federal e pedir uma investigação para tentar localizar cinco desaparecidos políticos que supostamente podem estar vivos. Em resposta à decisão judicial que determinou que investigasse esse caso, a Polícia Federal também se negou a participar da operação. A PF informou que essa não é sua atribuição e disse que a tarefa pode ser executada pelo Grupo de Trabalho Tocantins (GTT), criado pelo governo para localizar ossadas.
 
Ex-integrante da Comissão de Mortos e Desaparecidos, Rosário disse que jamais a Secretaria de Direitos Humanos recebeu informação sobre o possível paradeiro desses militantes do PCdoB que atuaram na Guerrilha do Araguaia. Ela acha desnecessário recorrer ao Judiciário.
 
- Informações ajudam, especulações, não. É preciso respeitar as famílias, e na secretaria trabalhamos com a convicção de que os 136 desaparecidos (incluídos os cinco listados pelo governo) foram executados e tiveram seus corpos subtraídos - disse Rosário. - Não considero que seja necessário (recorrer à Justiça), mas, se alguém tem alguma informação, é responsabilidade do Estado indicar o que ocorreu e a localização. Vamos continuar essa busca se houver informação precisa, não só para jogar confusão.
 
O Ministério da Defesa e a Advocacia Geral da União (AGU) encaminharam ofício à juíza Solange Salgado ano passado, pedindo que a PF investigasse se estão vivos Hélio Luiz Navarro, Luis René da Silveira, Antônio de Pádua Costa, Áurea Elisa Valadão e Dinalva Conceição Teixeira. Segundo o GTT, esses cinco teriam sido "poupados" pelos militares e vivem hoje com outras identidades.

Para PF, investigação é administrativa
 
A PF respondeu à juíza que esse trabalho não se enquadra nas funções da polícia judiciária e que nem tem autorização para essa missão. Para a PF, é uma investigação administrativa. "Quanto à situação dos guerrilheiros apontados como mortos ou desaparecidos, que eventualmente ainda podem estar vivos, não consiste atribuição deste departamento. (...) A investigação a respeito de guerrilheiros ainda vivos seria apenas um complemento do trabalho do GTT, a qual pode ser executada por ele mesmo", diz o ofício da PF, assinado pelo delegado André Koganemaru, do Serviço de Estudos, Legislação e Pareceres da PF.
 
No relato à Justiça, o governo faz um histórico de cada um. Hélio Navarro (codinome Edinho) teria trabalhado durante 30 anos numa multinacional francesa e seu nome teria sido incluído no inventário da família. Foi preso ao lado dos companheiros Luís Renê da Silveira (Duda) e Antônio de Pádua Costa (Piauí). Os três não teriam sido mortos. O documento do governo diz que os militares "teriam decidido abrir uma exceção e negociaram um acordo para que desaparecesse, inclusive da mãe".
 
Áurea Valadão teria sido embarcada em um avião da FAB e também teria sobrevivido, acredita o GTT, formado por militares, estudiosos e familiares de desaparecidos. A quinta sobrevivente da lista é Dinalva Conceição Teixeira, a Dina, "ainda que todos os informes dos militares afirmam que a teriam executado". Ela teria sido vista no Rio durante visita do Papa João Paulo II, em 1980. O ofício da Defesa para a AGU é assinado por Vilson Vedana, consultor jurídico do ministério e o coordenador-geral do GTT do Araguaia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Antecipadamente agradeço seu comentário. Magal