19 de mar. de 2012


ENTREVISTA DO GEN LEITE
ao Jornalista Everthon Dantas


“NOVO JORNAL” (Natal-RN)
18/03/12

Jornalista: General, o senhor é um dos que assinam o Manifesto dos Oficiais Generais contra a Comissão da Verdade.  Por que essa Comissão desagrada tanto aos senhores?

General: Já que a verdade está posta em questão, convém esclarecer que não existe “Manifesto dos Oficiais Generais” contra a Comissão da Verdade (sic).  Existiu, recentemente, um “Manifesto Interclubes Militares” (Clube Naval, Clube Militar e Clube de Aeronáutica), cujos presidentes procuraram lembrar compromissos assumidos, pela candidata vitoriosa na última disputa a presidente da República, de governar para toda a nação, respeitando os contrários, o que não está sendo cumprido, haja vista a sua condescendência com as manifestações recentes das ministras da Secretaria de Direitos Humanos e da Secretaria de Política para as Mulheres, que investiram contra os governos militares, chegando uma delas a se auto elogiar por ter lutado pela democracia (sic), além de homenagear os companheiros que morreram na luta armada.  Esse manifesto, de gestação incompleta e divulgação apressada, desagradou ao governo, resultando em ação inadequada do Ministro da Defesa junto aos comandantes das Forças Armadas, visando a interrupção de sua divulgação, em que pese o direito constitucional de liberdade de expressão e a sua origem em entidades civis alheias à subordinação militar. Dessa arbitrariedade surgiu um outro documento, intitulado Alerta à Nação, em defesa do decantado estado democrático de direito e, também, contra o absurdo da conjuntura política, prenhe de escândalos nos mais altos níveis e de cenários continuados de ofensas à dignidade dos militares.  Este sim, assinei, e já conta com mais de 2000 adesões de militares e civis, cidadãos e cidadãs brasileiros.  Enfatizo que o amor à verdade é um apanágio de todo militar, cuja categoria não tolera a hipocrisia, a mentira e o desrespeito!

Jornalista: Está claro no artigo terceiro da lei da Comissão, que o propósito é os fatos e as circunstâncias dos casos de graves violações aos direitos humanos, como tortura e ocultação de cadáver.  Não faz nenhuma menção a punição.  Então, qual o risco que a Comissão teria além de esclarecer tais fatos?

General: Não há risco a temer.  Existe, sim, uma repulsa à falsidade da busca histórica que se alardeia como necessária, já que as palavras e as ações governamentais evidenciam apenas um interesse em identificar militares que combateram a luta armada iniciada por adeptos da ideologia comunista, hoje transformados em ricos heróis, apesar de haverem praticados crimes de terrorismo por meio de atentados à bomba, sequestros, assaltos a bancos e assassinatos, cujas autorias não se pretende conhecer.

Jornalista: A Lei da Anistia (1979) já não é o bastante para afastar qualquer tentativa de punição a possíveis culpados por crimes contra os direitos humanos no período estabelecido pela lei da Comissão?  O senhor não acha que a lei é suficiente para sepultar qualquer tentativa de ver militares envolvidos em tais crimes na época da ditadura?

General: Respondo lembrando a recentíssima denúncia de membros do Ministério Público contra o então Capitão Sebastião "Curió", em Marabá, PA, em flagrante desrespeito à Lei da Anistia validada pelo Supremo Tribunal Federal 

Jornalista: O Brasil viveu uma ditadura no período de 1964 a 1985?  Onde o senhor estava nesse período?

General: Para mim foi um período de governos autoritários, preço que a nação pagou para se livrar da ditadura comunista que se pretendeu implantar sob inspiração da então União Soviética e do oriental Mao Tse Tung, valendo-se do êxito da tomada do poder em Cuba, pelos guerrilheiros do sanguinário Fidel Castro, como confessaram diversos insuspeitos personagens da esquerda, tais como Jacob Gorender e Carlos Mariguella. No dia 31 de março de 64 encontrava-me servindo em Natal e, no período, permaneci cumprindo o requisito de vivência nacional imposto a todo oficial do Exército, que o sujeita a mudanças de sede e a exercícios de adestramento militar e aprimoramento profissional nas diversas regiões do país.

Jornalista: General, em algum momento de seu período no Exército soube que militares estavam torturando e matando membros de grupos de esquerda?

General: Essa pergunta induz à aceitação de uma conjuntura militar que nunca existiu e, portanto, merece ser repelida.  Aproveito para lembrar que a ação das Forças Armadas foi uma reação à luta armada da esquerda, que escolheu locais e métodos de combate, contabilizando mais de trezentas violentas ações de guerrilha urbana, podendo citar três, para exemplificar : o assassinato do Major alemão Edward Von Westernhagen, aluno da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), resultante da condenação à morte feita por um “tribunal revolucionário” e que, por incompetência dos seus algozes, foi confundido com o major boliviano Gary Prado autor da morte do Guevara; o assassinato, em São Paulo, em 1968, do Capitão norte-americano Charles Rodney Chandler, herói da Guerra do Vietnam, que teve deixado sobre o seu cadáver panfletos que terminavam com os dizeres: “o único caminho para a revolução no Brasil é a luta armada.  A luta armada é o caminho de todo revolucionário no Brasil.  Criar um, dois, três, vários Vietnames”; e o sequestro, em 1969, do embaixador Charles B.  Elbrick, também dos Estados Unidos, quando outros folhetos declaravam que “o rapto do embaixador é apenas mais um ato de guerra revolucionária que avança a cada dia e que este ano iniciará a sua etapa de guerrilha rural.” 

Jornalista: O general Luiz Eduardo Rocha Paiva, em entrevista à jornalista Miriam Leitão, de O Globo, duvidou que a presidente Dilma Roussef tenha sido torturada e sugeriu que ela também seja ouvida pela Comissão.  O senhor concorda com ele?

General: A minha preferência é pela pacificação nacional sem perdão, mas com o esquecimento das ações de um passado de lutas intestinas.

Jornalista: O Ministério Público Federal de Marabá (PA) denunciou o coronel Sebastião Curió Rodrigues de Moura pelo crime de sequestro de cinco pessoas na Guerrilha do Araguaia, em 1974.  O senhor acha que isso é uma ameaça a militares envolvidos em crimes semelhantes?

General: Sem dúvida é mais uma tentativa de condenação de militares que já deveria ter cessado, causando-me preocupação as possíveis consequências do desrespeito à ordem jurídica constituída pelo desprezo dado a uma lei (a da Anistia) referendada pelo órgão máximo do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal.  Consola-me a pronta reação do Advogado-Geral da União, Luís Inácio Adams, proclamando que essas denúncias não são adequadas nem devem render frutos porque estão, como já acentuei em resposta anterior, violando entendimento do STF.

Jornalista: O senhor acha que o Manifesto dos Oficiais Generais é um sentimento de todas as Forças Armadas?

General: Ressalvada a inexistência desse manifesto, conforme já expus, acredito que haja um sentimento comum de insatisfação no Exército, mormente no pessoal da reserva.

Jornalista: A democracia brasileira está consolidada na opinião do senhor?

General: Sem dúvida que sim, mas faz-se necessário um aperfeiçoamento capaz de garantir um melhor funcionamento, um melhor respeito e uma maior confiança nos seus Poderes Constituídos

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