16 de mar. de 2012


O enxoval
ou
Papel Higiênico pode levar a impeachment
Aristóteles Costa 

Essa história é verídica e aconteceu em pleno terceiro milênio, isso mesmo, no ano de 2012, mais precisamente.

As coisas aconteceram assim. Uma jovem repórter de um grande jornal, ávida em busca de notícias de impacto, encontrou uma senhora humilde, que assistia uma cerimônia militar de incorporação de conscritos, da qual seu filho era um dos participantes, lamentando ter tido de comprar um enxoval para seu garoto ingressar nas Forças Armadas. O enxoval previa a aquisição de 2 camisetas brancas, 2 shorts (pretos ou verdes), 1 sunga preta, 1 par de tênis pretos, 1 par de chinelos pretos, meias brancas, 2 cadeados com chaves, sabonetes, papel higiênico, copos e talheres descartáveis.

A matéria foi primorosa, ocupou meia página do jornal, com direito a uma foto enorme de Instituição militar envolvida, o IME (Instituto Militar de Engenharia), sendo ouvido até o ministério da Defesa e o Comando Militar do Leste, os quais condenaram o fato.

Quando li a matéria, achei um absurdo e pensei meu Deus coitado do Exército, antes não tinha dinheiro pra comida e, agora, nem para comprar papel higiênico. Achei que tal fato seria de conhecimento público, mas logo resolvido pela própria organização militar e, pronto, acabou o assunto.

Mas aí é que está. Eu esqueci que estava no Brasil.

No dia seguinte, 14 de março, começo a ler o mesmo jornal, pois sou seu fiel assinante, e, ao chegar à página 17, vejo a chamada, em letras garrafais e em negrito, “MP Militar investigará ‘enxoval ‘ de recrutas”, tendo como subtitulo: “Procuradora-geral da Justiça Militar em Brasília designa um promotor do Rio para apurar exigência do IME”. Eu, também, fiquei estupefato quando vi a chamada e pirei de vez quando li o despacho designando um promotor da Justiça Militar do Rio “para apurar as denúncias e tomar as medidas necessárias”.

Quando li a matéria, achei um absurdo e pensei meu Deus coitado do Exército, antes não tinha dinheiro pra comida e, agora, nem para comprar papel higiênico e, além disso vai ser investigado por um promotor do Ministério Público Militar por ter pedido ao garoto para comprar o danado do enxoval com o papel higiênico.

Na quinta-feira, 15 de março, sento em meu escritório, pego o jornal e já na primeira página vejo: “CML investiga ‘enxoval’ de recruta no IME”, só não cai pra trás porque estava sentado. Não acreditei, mas fui na tal página 17 e lá estava o titulo “Por ordem de general, sindicância apura exigência de ‘enxoval’ no IME”, logo abaixo, ‘Se existiu, é uma iniciativa descabida’, afirma o comandante do CML, uma foto do general. No corpo da matéria, mostra que o próprio comandante do IME, general de brigada, “está investigando as circunstâncias da exigência da compra de itens de uma lista... incluindo até papel higiênico”.

Quando li a matéria, achei um absurdo e pensei meu Deus coitado do Exército, antes não tinha dinheiro pra comida e, agora, nem para comprar papel higiênico e, além disso vai ser investigado por um promotor do Ministério Público Militar por ter pedido ao garoto para comprar o danado do enxoval com o papel higiênico; não bastasse um general de quatro estrelas e um de brigada abrem sindicâncias para apurar o maldito enxoval com o diabo do papel higiênico.

Impressionante a importância de um papel higiênico. Na televisão aparece carregado em bandeja pelo ator Gianecchini vestido de smoking. Nesta nossa história seria surreal se não fosse extremamente séria, pois envolve o Ministro de Estado da Defesa, a procuradora-geral da Justiça Militar, um promotor do Ministério Público Militar, o Comandante Militar do Leste e o Comandante do IME, todos com inúmeros afazeres bem mais relevantes e que lhes tomam o tempo devido, em um fato de solução simples e imediata.

Fico boquiaberto com o que acontece atualmente no Brasil. Parece que as pessoas perderam a capacidade de discernir sobre o que é mais importante para conduzir a sua vida e superar seus problemas no seu cotidiano. Parece que os valores deixaram de ser sentimentos arraigados para se transformarem em transitórios, sujeitos a determinadas circunstâncias. Vejo como ultrajante e, até mesmo, inconcebível se dispor de autoridades para conhecer fatos dessa natureza e ter que emitir pareceres a respeito dos mesmos, quando a solução está ali “ao pé da obra”.

Quero que fique bem claro que, em momento algum, estou condenando a atitude da senhora que relatou o fato à repórter e, sim, a magnitude alcançada pela maneira como o mesmo foi conduzido.

Na minha visão a situação é tão esdrúxula que, se houver uma outra vez, não envolvam nossas autoridades, chamem o “Alfredo” (Gianecchini).


O título alternativo foi inserido pelo Blog.

Comentário do Blog 
Acho importantíssimo que essa apuração vá às últimas consequências: quem é(são) o(s) verdadeiro(s) responsável(eis) por não haver papel higiênico no exército...  e comida...  e munição...  e combustível...  etc?
Quem é(são) o(s) verdadeiro(s) responsável(eis) por não termos um Exército em condições materiais de defender a Pátria?  Isto é crime de traição, de lesa-pátria!




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