13 de abr. de 2013

Relato sobre o 31 de março de 1964

Repare no ambiente - privilegiado - em que estava o autor, um civil, Miguel Pellicciari.

O 31 DE MARÇO DE 1964 

O que eu sei é o que eu vi naquela época. Almino Alfonso, Darcy Ribeiro e outros fazendo conferencia na USP onde eu cursava o quarto ano de Engenharia, e onde o Serra era meu colega e ainda presidia a UNE. 

Eles mostravam como seria o Brasil depois das tais reformas de base. Nada mais nada menos que transformar em mais um satélite da antiga URSS, como já era Cuba na América. Assustava, mas impressionava a platéia. Meia dúzia de paus mandados aplaudia entusiasticamente da mesma forma como fazem hoje, para dar clima de euforia. A perplexidade era geral, e até os mais céticos estavam preocupados. 

No entanto, havia uma esperança dada a resistência dos governos de São Paulo, Minas e do Rio de Janeiro, que com tropas leais, estavam dispostos a enfrentar a coisa. É bom que fique claro, portanto, que não foram só os militares que entraram em cena, mas governos Civis e a própria população saindo na rua clamando e protestando contra o que estava por vir. 

Acho até que foi a precipitação do General Mourão Filho, partindo com suas parcas tropas de Juiz de Fora, quem forçou a entrada dos Militares na coisa. Lembro-me perfeitamente quando o Comandante do II Exército sediado em S. Paulo, General Kruel, e que havia sido ministro do próprio Jango, propôs a ele endurecer com as esquerdas para que as coisas pudessem acalmar. Sem êxito, acabou marchando com os outros comandantes para sitiar o Estado da Guanabara, dando inicio ao movimento.  Na verdade, foi um alivio geral e disso, lembro-me muito bem. pouca gente foi contra, mas aceitaram como a melhor solução para o momento. A paz voltou e o Brasil pôde caminhar novamente. 

Lembro-me ainda, e muito bem, que as coisas passaram a melhorar a tal ponto em relação aos governos anteriores, que não havia quem não estivesse satisfeito. O Brasil progredia, e havia real crescimento econômico batendo alguns anos depois nos 10/11 %. 

O governo militar foi fartamente apoiado. Até amigos e antigos políticos da esquerda se sentiram surpresos e satisfeitos. Aliás, o crescimento era realmente sentido e não como os de hoje, puras mentiras fartamente ditas pelos governantes para um povo que não sabe ler índice econômico. Não havia corrupção nem bandidagem. E nenhum General presidente ou ministro ficou rico como depois. 

Tudo ia bem, até colocarem a bomba nos Guararapes em Recife. Foi uma surpresa a todos. A partir daí soubemos da existência de um movimento terrorista. Foi quando, então, o governo emitiu o AI - 5 e a coisa endureceu. Portanto, a mim ninguém engana e não faz a historia mudar como estão tentando fazer. Havia paz e prosperidade sim e não havia manifestação contra o regime instalado, muito pelo contrário. Apenas ações extremistas pipocavam, e isso é importante, totalmente condenadas pela grande maioria da população. A grande verdade é essa. 

Além disso, essas ações só atrapalharam porque acabaram por prolongar ainda mais o retorno à normalidade institucional, e que só aconteceu por meios pacíficos, quando o terror já estava extinto. Jamais lutaram contra o regime, mas para instalar um outro regime. E, os torturados não foram pessoas que trabalhavam, produziam e viviam em paz, mas apenas e tão somente aqueles que radicalizaram. 

Disso eu sei por que eu conhecia muitas pessoas que por fanatismo ou por indução acabaram sendo perseguidas. Eu precisava falar disso porque eu tenho visto, lido e ouvido tanta besteira e principalmente mentiras que tem me enojado. 

 Fui testemunha viva e quero deixar claro, eu também fui e sou contra o Regime Militar assim como eram muitas pessoas e até muitos militares. Mas fui a favor da ação na época. Era um mal necessário. Não havia outra saída. 

O grande problema é que os terroristas de ontem conseguiram chegar democraticamente ao poder, até com a ajuda da imprensa e de empresas. Mas não tenham duvidas, o que eles não querem é manter a democracia. Chegaram lá, mas não vão sair facilmente, igualzinho ao que o Hugo Chavez fez na Venezuela. 

Para complicar, hoje as forças armadas estão enfraquecidas. Há tempos estão sendo desprezadas e não existem mais generais e oficiais como os de antigamente. Então, pouco se pode contar com eles. Hoje, pretende-se que sejam também aparelhadas para servir ao Governo e não ao Brasil, com o único objetivo de manter-se no poder. 

Uma pena que estejam aceitando isso também. Essa tal comissão da verdade era o que faltava para pisar ainda mais no calo. Só humilhação. Agora abaixaram a cabeça e nem comemoração pelo 31 de Março vai haver

É o fim. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Antecipadamente agradeço seu comentário. Magal