4 de mar. de 2011


HIPOCRISIA MILITAR
Claudio Buchholz Ferreira - Capitão-de-Mar-e-Guerra Res
     Uma péssima mania do ser humano é analisar as situações por uma ótica simplista, por um viés parcial, sem considerar os méritos que conduziram a determinada situação. Ante o caso do Coronel Ustra, temos notado em muitos militares, principalmente da ativa, um ar de condenação, de desdém. Não se atrevem a emitir juízo de valor, mas agem com ar de superioridade, tratando-o como uma espécie de ralé da classe, uma aberração. Vide recente proibição ao mesmo de proferir palestra no CPOR do Rio, julgando-o inadequado.
     A história de 1964 já é por todos conhecida, mas só para relembrar, estávamos em plena escalada revolucionária e, após sucessivas demonstrações de anarquia, baderna, desordem, desencadeou-se a contra-revolução. Daí em diante aumentou a escalada do conflito interno, até que, em 1966, o atentado a bomba no aeroporto de Guararapes detonou o início da luta armada.
     Pergunto aos que se julgam superiores, como deveria ter sido a reação? Tíbia, vacilante, respeitadora dos direitos individuais, o batido “Direitos Humanos”. Vivemos uma era difícil sob a égide do terrorismo mundial. Como os americanos deveriam ter confrontado o terrorismo que, numa só tacada, matou quase três mil pessoas? Usando das estratégias tradicionais, pressão diplomática, negociações? Pergunto a estes, que se arrogam superiores, por não terem tido que lutar contra o terrorismo, a vocês, como militares, que solução proporiam?
     Hoje, fora do contexto, é muito fácil para qualquer um falar sobre como se “abusou” na luta contra subversão. Como deveriam ter agido? Como na Colômbia, onde "coincidentemente" a guerra subversiva se iniciou em conjunto com a que aqui eclodiu?  
     Para quem não conhece o que aconteceu, e acontece, na Colômbia, basta seguir a lógica. Quando do surgimento dos primeiros focos de guerrilha, o estado Colombiano vacilou em tomar decisões duras. Sabem o resultado? Milhares de viúvas de militares de todas as armas; quase cinquenta mil mortos; cem vezes  mais do que aqui. Aos que querem ignorar os fatos, basta lerem qualquer jornal da Colômbia; vejam quantos militares mortos.
     Portanto, aos que condenam, saibam que sua paz teve um preço. O fato de poderem viver relativamente em paz, terem um lar para voltar, seus filhos e netos com integridade física, seu próprio bem-estar, é um legado daqueles que cumpriram sua missão, não fugiram ao seu dever, nem à luta.
     Soldados da paz jamais devem condenar os soldados da guerra! Que saíram das trincheiras e fizeram o que tinham que fazer.  Na escala da honra, isso vale muito mais do que alguém que passou trinta, quarenta anos em serviço militar sem sofrer um único arranhão.
     Desçam do salto alto! Vocês não têm envergadura moral para julgar, muito menos condenar ninguém. Recolham-se aos seus lares, ao seu sono tranquilo. Mas não esqueçam que os que cumpriram seu dever, pela ordem e paz da nação, estão sendo covardemente linchados.

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